Nossa Esperança é a Sua Misericórdia

Por Pastor Eliy Barbosa
Continuamos a marcha pelo Monte da Salvação. Tentei me aproximar de Pureza, mas ela me evitava. Estava cabisbaixa, triste e envergonhada. Sua tristeza era tão grande que me contagiou. Pureza suspirou fundo... Derramando lágrimas de vergonha e mágoa, com a voz embargada, disse:

- Existe uma dor em meu peito... É uma dor profunda... Uma dor que rasga a alma...

Ela falava sobre a dor da culpa.

- Somente hoje eu já decepcionei e magoei nosso Pastor duas vezes! Uma na Campina do Orgulho e outra no Planalto da Revolta...


Pureza estava focada em sua fraqueza e incapacidade:

- Pureza! Não traga maior dor ou pesar ao seu coração! É só você olhar ao redor e você verá dramas e desastres iguais ao seu. Todas passamos por momentos de dúvida, de incerteza, de instabilidade!


Na memória de Pureza, o que aconteceu era uma ferida aberta que demora para cicatrizar.

- Mas por que eu não consigo fazer ou falar o que realmente é certo? Como posso deixar essas coisas me seduzirem de forma tão rápida? Por que sempre foi mais fácil condenar o mal dos outros, do que fazer o nosso bem?


- Amiga, qualquer uma de nós pode falhar miseravelmente. Tenho certeza que o amor do Pastor por você neste momento é maior do que nunca! Pois a quem Ele ama, Ele corrige. Foi uma correção de amor.
Eu sabia que ela estava me ouvindo:

- Aquilo que aos seus olhos pode parecer Ele te machucando, na verdade é Ele te amando!


Pureza apenas respirou fundo e soltou o ar enquanto se afastava de mim. Deixei a ir. Era o momento dela ficar um pouco sozinha. “É melhor ela não ir muito longe”. Já começava a escurecer quando chegamos ao alto do Monte da Salvação.

Ali o Senhor do Monte da Salvação havia mandado fazer um abrigo para os viajantes. Entramos neste simples, porém aconchegante aprisco, e comecei a procurar Pureza no meio do rebanho.

Não conseguia encontrá-la! De repente o pânico subiu por dentro de mim e meu coração disparou. Estava prestes a chamar nosso Pastor quando Ele passou ao meu lado com o rosto marcado pela preocupação. Ele chamava por Pureza:

- Pureza! Onde está você minha ovelhinha?


As demais ovelhas também perceberam sua falta. Passados alguns momentos de pesado silêncio, ouvi um barulho na distante escuridão. Era Pureza, que chorava desesperada no meio da noite. O Pastor também havia ouvido. Ele pegou o Seu cajado e a Sua bolsa, verificou se todas estavam seguras no abrigo e sumiu nas trevas, monte abaixo atrás de Pureza.

Pureza havia chegado a um ponto de quebradura, a um momento definitivo de ruptura. Ela tinha se esforçado para viver de forma fiel, diligente, em seguir a voz do Pastor. Ela provou várias vitórias no passado e amava profundamente o Pastor. Mas ela permitiu que seus sentimentos a empurrassem em todas as direções.. E agora se quebrou em profundidade e estava ferida. Derrubada em desespero.

Fiquei imaginando como Pureza poderia estar: ferida, toda encolhida dentro de um buraco, tremendo de frio, com o focinho entre as patas... Cansada, com frio e com fome. Mergulhada na escuridão da noite e seus ruídos estranhos. Sabe, às vezes acho que fazemos algumas coisas impensadas pois esquecemos que somos todas mortais.

Apesar de tudo isso dormi naquela noite. Haveria alguma esperança para qualquer uma de nós nestes dias de provação, sem a misericórdia do Pastor? Agora eu olhava para trás, para os momentos de provação e me envergonhei de como eu havia reagido. Via que todos os meus temores eram infundados.

“Liberdade...” Eu conseguia considerar o final trágico da sua alma incrédula. A sua última companhia que teve antes de partir para a eternidade foi com um lobo. Por que não me comprometi mais em confiar no Pastor, independente do que acontecesse? Por que abriguei alguns pensamentos que o Pastor não estava cuidando de nós? Ele havia iniciado um milagre para nós no deserto? E não seria capaz de terminá-lo por nós? “Ele já provou que é fiel. Pureza vai ficar bem”. Eu tinha certeza que o Pastor resolveria tudo enquanto eu dormia.




Trecho do livro "A Voz da Ovelha" do Pastor Eliy Barbosa

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